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Banco de teses e dissertações

PELOS VAPORES E TRENS, DO HIPÓDROMO AO STADIUM: esporte e lazer em Feira de Santana-BA (1875-1922)

FÁBIO SANTANA NUNES

Objetivamos identificar e analisar os espetáculos públicos teatrais, circenses, tauromáquicos e esportivos desenvolvidos na cidade de Feira de Santana, bem como seus modos de organização, personagens, locais de realização, modalidades de representação na imprensa, frequência com que aconteciam, público que participava e instituições promotoras. Também intentamos compreender as relações recíprocas entre lazer e contexto social mais geral, em especial, meios de transporte, urbanização e desenvolvimento econômico. O recorte temporal considerado no estudo compreende o período final do século XIX e o princípio do XX. Trata-se de uma Pesquisa Documental, tendo como base periódicos publicados à época no município pesquisado e outras regiões; obras de memorialistas e de viajantes; relatórios e anuários estatísticos; artigos, dissertações e teses sobre a cidade. Os resultados apontam que os espetáculos de circo, touradas, dramatizações, corridas de cavalo e partidas de futebol ocorreram em um período distante ao do crescimento urbano e industrialização de Feira de Santana. As funções utilizaram em grande medida o único teatro da cidade, o Theatro Sant’Anna, além de usufruírem do hipódromo do Jockey Club Feirense, do Stadium Leolindo Ramos e de largos locais, como a Praça Dr. Remédios Monteiro e o Campo do Gado. Destacam-se personagens, instituições e o intercâmbio entre práticas culturais, entidades e outras regiões. Os modais de transporte foram importantes para a interiorização dos divertimentos, interligando o sertão baiano, em específico Feira de Santana, às regiões do Recôncavo Baiano, Salvador e demais localidades do mundo por meio do barco a vapor e do trem, contribuindo para a oferta de lazeres comercializáveis.

RESISTIR PARA SE DIVERTIR, SE DIVERTIR PARA EXISTIR: os “selvagens divertimentos” das pessoas negras em Salvador (BA) na virada do século (1890-1910)

Danilo da Silva Ramos

Este trabalho discute os divertimentos das pessoas negras em Salvador, capital do estado da Bahia, pelo período referente a transição do século XIX para o XX (de 1890 até 1910). O objetivo principal da dissertação é analisar, discutir e inferir sobre as problematizações de como população negra se divertia em uma sociedade marcadamente negra, que passava por mudanças políticas (transição da monarquia para a república), alterações sociais (fim da escravidão via marcos legais) e culturais (tentativa de “civilizar” as pessoas através da proibição e/ou repressão de alguns costumes) – observando como estes elementos influenciaram nas formas de diversões, nas sociabilidades e afins da população negra. Utilizamos os jornais do período como principais fontes, além da legislação do período (código penal de 1890 e constituição de 1891 e outras), relatos de viajantes e afins. Após nossa incursão nas fontes definimos os divertimentos a serem investigados que foram o Samba, o Batuque, o Candomblé, os Festejos do Bonfim e Jogos Proibidos. Nosso referencial teórico foi apresentado de forma fluida durante o texto, bem como a análise das fontes aqui indicadas seguiram em caráter de espiral, buscando a prática de diversão como centro e não seu marco cronológico linear.

A HISTÓRIA DO ESPORTE NO ENSINO SUPERIOR BRASILEIRO DE 1905 A 1930

Vitor Lucas de Faria Pessoa

O objetivo desta pesquisa é elaborar uma análise histórica de como ocorreu o desenvolvimento do fenômeno esportivo no interior das instituições de ensino superior no Brasil de 1905 até 1930. Busca-se, a partir disso, relacionar a esfera esportiva com as transformações mais amplas que ocorriam no país ao longo do período que condiz com a vigência da Primeira República. Para tanto, foram utilizados documentos e periódicos datados entre 1905 e 1930. As fontes foram coletadas no acervo da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro através da Hemeroteca Digital Brasileira. Ao todo foram analisadas 2.094 ocorrências sobre o esporte no interior das instituições de ensino superior no país no recorte temporal proposto pela pesquisa. Os documentos e fontes são provenientes de vários estados brasileiros, dentre eles Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Santa Catarina, Pernambuco, Pará, Rio Grande do Sul e Paraná. Como perspectiva teórica partimos das discussões sobre a História Cultural e a Teoria do Associativismo. Com relação aos resultados da pesquisa, concluímos que o associativismo foi o principal fator que contribuiu para a sistematização do fenômeno esportivo nas escolas de ensino superior, nas três primeiras décadas do século XX. Além disso, os processos desencadeados pela modernidade (urbanização, industrialização, comercialização) impactaram o desenvolvimento do esporte acadêmico no país, mas cumpriram um papel secundário se comparado ao "capital associativo". O esporte acadêmico cumpriu um papel importante na difusão de práticas corporais como o futebol, o voleibol, o atletismo, o xadrez, o polo aquático, a esgrima e o basquetebol no Brasil. Por fim, diferente do que ocorreu com o esporte universitário a partir da década de 1930, o esporte acadêmico observado nas três primeiras décadas do século XX, não sofreu uma interferência direta do Estado, seja do poder executivo ou das instâncias legislativas, o que reafirma a importância do associativismo civil para analisarmos a emergência histórica deste fenômeno cultural.

O MAIS COMPLETO DOS SPORTS ESPIRITUAES: o cinema silencioso em Barbacena (Minas Gerais, 1914-1931)

Igor Maciel da Silva

Os estudos que investigaram as atividades de cinema em Barbacena, Minas Gerais, no início do século XX, dedicaram a atenção especialmente ao trabalho de Paulo Benedetti: imigrante italiano que inaugurou a primeira casa de exibição cinematográfica na cidade e desenvolveu uma técnica sonora para alguns dos documentários que gravou na região – sendo essa última atividade o que comumente é destacado por essas narrativas. Em outra direção, esta tese almeja escrever a história do cinema silencioso em Barbacena, com o objetivo geral de mapear as atividades das casas cinematográficas de Barbacena do período silencioso, entre 1914 e 1931. Já os objetivos específicos são: 1) investigar o funcionamento dos lugares que projetavam filmes, abrangendo os proprietários, dias e horários das exibições cinematográficas, valores das entradas, tipos de programações, empresas fornecedoras, público frequentador etc.; 2) reconhecer os significados associados ao cinema; 3) apontar os demais usos e sociabilidades proporcionadas pelos estabelecimentos cinematográficos. A metodologia adotada é a análise documental construída a partir da apreciação de documentos impressos, especialmente dos exemplares de jornais, revistas, almanaque, anuário e livros de memorialistas, tendo o jornal Cidade de Barbacena como a principal fonte devido à sua importância no município e ao número de edições disponíveis em arquivo. A narrativa também apresenta imagens que são dispostas especialmente de modo ilustrativo. O texto está organizado da seguinte forma: Introdução – apresenta o ponto de partida da tese e consta de uma apuração das pesquisas identificadas sobre cinema em Barbacena, bem como de uma justificativa para a investigação; Vários aspectos de Barbacena – descreve panoramicamente as atividades da cidade no período em tela, abrangendo o seu desenvolvimento econômico, industrial, arquitetônico e entretenimentos identificados; Cinema em Barbacena – contém, inicialmente, um balanço da dinâmica das atividades das casas projetoras identificadas, o que inclui: número de estabelecimentos, gestores, organização do funcionamento, formas de ingresso, tipos de programações, público frequentador, suas formas de uso e expectativas, programações oferecidas aos assistentes, marcas dos filmes projetados e as temáticas evidenciadas. Na sequência, são conferidos detalhes de cada cinema em seções.

O TEATRO E ALGUMAS DIVERSÕES EM DIAMANTINA: uma história registrada pela imprensa (1888-1915)

Renata Cristina Simões de Oliveira

O presente estudo se ocupou em analisar as representações dos divertimentos registrados nos periódicos locais da cidade de Diamantina/Minas Gerais, no período de 1888 a 1915. Na virada do século XIX ao século XX a elite política local, juntamente com os proprietários de lavras haviam se tornado empresários das fábricas, do comércio de distribuição, articulistas dos programas de desenvolvimento da cidade frente à região Norte de Minas Gerais. Nesse contexto, os periódicos de circulação local e regional fundados na cidade se tornaram o principal veículo de difusão dos ideários modernizantes que se pretendia ter na sociedade diamantinense. Discurso que permeou a forma do divertir-se, onde eram aceitas e difundidas práticas que atestassem o grau de civilidade, utilidade e instrução. Buscou-se, no entanto, entender quem eram os sujeitos envolvidos nesses discursos, a quem se destinavam e como eram recebidos pela sociedade diamantinense. Atestando que a rede intelectual de difusão dos ideários modernizantes, em sua maioria, foi dirigida pela elite local, representada por acadêmicos e por líderes políticos, entre conservadores, liberais, republicanos e religiosos. Cada qual defendendo suas doutrinas e lutando por diferentes caminhos do progresso da Diamantina. O projeto de modernização e civilização dos costumes iniciados pela elite diamantinense na década final do século XIX conseguiu reunir uma variedade de práticas de divertimentos, embora muito ainda se queixassem de não haver diversão na cidade. Na década de 1910, as representações dos divertimentos deixam claras as intenções de que fossem praticados pela elite que se pronunciava civilizada, frente aos demais grupos da população diamantinense.

PANORAMA DO ESPORTE EM MANAUS - 1897 a 1911

ELIZA SALGADO DE SOUZA

Este trabalho teve como objetivo investigar e descrever a organização esportiva na cidade de Manaus no final do século XIX e início do XX. Para tanto, tomou-se como ponto de partida a fundação de um clube esportivo, o Sport Club Amazonense, em 1897, delimitando o recorte temporal até 1911, quando se interrompe o funcionamento do Prado Amazonense, importante local de realização e apreciação do turfe na cidade, e há uma intensificação da organização do futebol. Para realizar a pesquisa foram consultados periódicos da época disponíveis na Hemeroteca Digital. Nesse período Manaus se tornou um importante centro importador e exportador, sofrendo várias transformações que levaram a mudanças estruturais e sociais. Em meio a esse espectro os clubes esportivos e os locais para a prática dos esportes, passam a fazer parte das possibilidades de sociabilidade da cidade. A princípio destacam-se dois clubes, O Sport Club Amazonense e o Grupo Cyclista Amazonense. O primeiro pela realização de esportes e festas e o segundo pela organização de passeios e corridas de bicicleta pela cidade. Todavia, com a virada do século XIX para o XX, novas agremiações são fundadas e espaços construídos especificamente para a apreciação e prática dos esportes, o Velódromo Amazonense, local das corridas de bicicleta e o Prado Amazonense, local das corridas de cavalo.

O TEATRO EM MATO GROSSO (1877-1925)

Marcela Ariete dos Santos

O trabalho estudou o teatro em Mato Grosso no período de 1877 a 1925 abordandoo como um forte elemento da diversão. O principal objetivo deste trabalho foi descrever como esteve organizada esta prática. O recorte temporal desta pesquisa contemplou inicialmente o ano de 1877 no qual surgira a “Amor à Arte”, uma importante instituição teatral que supostamente diferiu das então tradicionais organizações que fundamentalmente se pautavam em políticas e vertentes eclesiásticas vigentes naquele período. O escopo fecha-se então em meados de 1925, quando os empresários mato-grossenses pareceram vislumbrar o teatro como algo promissor para o mercado de entretenimento. Em termos metodológicos, a pesquisa se caracterizou por um estudo histórico, com a utilização de fontes primárias, especialmente os jornais publicados entre o período de 1877 a 1925 do estado de Mato Grosso, digitalizados e disponíveis gratuitamente na hemeroteca digital. O presente texto então detalhou a infraestrutura dos teatros, as instituições teatrais amadoras as companhias viajantes que por ali estiveram instaladas, bem como o público e as peças apresentadas no estado. Discutiu-se ainda que além de um entretenimento, o teatro tivera também neste período grande importância entre os ideais civilizadores e educativos.

VILLA NOVA ATHLETIC CLUB: HISTÓRIAS DO FUTEBOL OPERÁRIO EM MINAS GERAIS (1908 - 1952)

Roberto Camargos Malcher Kanitz

Este trabalho reconstitui o percurso histórico do Villa Nova Athletic Club, time de origem operária criado oficialmente no ano de 1908, até o início da decadência da agremiação no início da década de 1950. O objetivo principal desta tese é analisar e problematizar o Villa Nova como estratégia de controle dos corpos dos operários da Mina de Morro Velho. O que nos permitirá conhecer mais a respeito do fenômeno de criação de clubes operários em Minas Gerais, nas décadas de 1930 e 1940. Para tanto, se constituíram como principais fontes os periódicos mineiros e cariocas disponíveis na Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional, assim como o acervo precioso da Coleção Linhares, também disponível digitalmente. Os livros “Mina de Morro Velho: a extração do homem”, da Yonne de Souza Grossi, e “Futebol no embalo da nostalgia”, de Plínio Barreto, além do livro do memorialista Wagner Augusto Álvares de Freitas, intitulado “Villa Nova: 100 anos de glória em vermelho e branco” foram fundamentais para construção deste trabalho, cada qual abordando uma dimensão do objeto investigado. O livro de Lira Neto, “Getúlio (1930-1945): do governo provisório à ditadura do Estado Novo”, apresentou-se como essencial para me ajudar a capturar o clima político de época e perceber que na região central de Minas Gerais ocorriam fenômenos muito semelhantes com o restante do País, em consequência da forte política Varguista. Foi possível perceber ainda que, apesar de todas as intencionalidades da multinacional inglesa e das políticas estatais, o conjunto de operários da Mina de Morro Velho resistiu e não se pacificou. Muitos se organizaram em sindicatos, realizaram marchas, e até morreram na luta por melhores condições de vida. Destarte, conclui que a política nacional e o futebol como estratégias de controle dos corpos dos operários eram pilares indissociáveis na construção dessa nova sociedade pretensamente industrializada que se apresentava, e a xii história das primeiras décadas do Villa Nova Athletic Club não poderia ser apartada de todo esse complexo campo de disputas hegemônicas.

“MOÇOS DE HOJE, DIRIGENTES DA NAÇÃO AMANHÔ: A história do esporte universitário no Brasil de 1930 a 1941

Vitor Lucas de Faria Pessoa

Este trabalho busca elucidar a trajetória do esporte universitário no Brasil de 1930 ao ano de 1941, período que corresponde à sistematização do fenômeno nas universidades brasileiras e posteriormente ao seu aparelhamento por parte do Estado Novo. Os objetivos da dissertação se constituem em buscar indícios da sistematização do esporte universitário no Brasil, procurando ressaltar quais foram as instituições e atores responsáveis pelo o seu desenvolvimento no país; Analisar o envolvimento do movimento estudantil com o esporte acadêmico; Observar como o esporte universitário foi utilizado como um espaço privilegiado para a afirmação de identidades, e por fim, compreender qual foi o seu papel nas discussões sobre amadorismo e profissionalismo no esporte a partir da década de 1930. Desse modo, para que pudéssemos atingir os objetivos propostos utilizamos documentos e periódicos datados de 1930 até o ano de 1941. O levantamento das fontes foi realizado no acervo da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, através da Hemeroteca Digital Brasileira. Constatou-se que o associativismo estudantil foi o principal fator que contribuiu para a sistematização do esporte universitário no Brasil. Os fóruns de articulação do movimento estudantil brasileiro, como os congressos da União Nacional dos Estudantes, assim como, as assembleias das entidades de base, foram fundamentais para que o esporte universitário fosse concebido enquanto um fator que contribuiria para um maior intercâmbio entre os acadêmicos de todo o Brasil. O Estado Novo utilizou o esporte universitário enquanto um veículo de propaganda dos ideais nacionalistas. Ao longo da década de 1930, Vargas se aproximaria cada vez mais das instituições acadêmicas, sendo que o definitivo aparelhamento da Confederação Brasileira de Desporto Universitário ocorreu com a promulgação do Decreto-lei nº 3.617 em 15 de setembro de 1941. Ademais, o esporte universitário foi concebido enquanto um refúgio aos defensores do amadorismo, uma espécie de contraponto ao processo de profissionalização do futebol que ocorreu no mesmo período em que o esporte universitário se consolidou no país.

DIVIRTA-SE QUEM PUDER: História e lazer em Belo Horizonte através da revista Semana Illustrada, 1927-1928

Andreza Gonsalez Rodrigues Mota

Este estudo se foca na investigação e análise das diversões retratados pela revista “Semana Illustrada”, através das suas publicações de 1927 e 1928, circulantes em Minas Gerais e atualmente localizadas no acervo da Hemeroteca Histórica da Biblioteca Pública Luiz de Bessa (Belo Horizonte, MG). Uma das principais características da revista, que a distinguia da concorrência na época, era a capacidade de publicar imagens auto-explicativas; isto é, elas não exigiam textos auxiliares para que o conteúdo fosse entendido pelo público. Ainda que de vida efêmera, de caráter noticiário, artístico, humorístico, crítico e literário, “Semana Illustrada” evidenciou em suas páginas a apropriação dos espaços públicos pelas camadas mais abastadas da sociedade mineira, tais como a missa, o footing, os picnic’s, o carnaval e os sports. Além disso, a revista fazia questão de prestigiar as várias aparições de membros da alta sociedade em espaços privativos, criados especificamente para o encontro da elite, como o “Cassino Capitólio” e o “Theatro Municipal”; cinemas como o “Glória”, o “Avenida” e o “Pathé”, sem faltar os bares como o “Stadt Wien”, “Grande Hotel” e “Império”. A omissão, quase que total, de conflitos trazidos pela urbanização era representada em seu conteúdo perene, apesar do criticismo ser característica de sua definição em seu Expediente e estar presente em algumas capas, crônicas, versos e ilustrações. Constituindo uma das características importantes do periódico, seu caráter comercial evidenciou sua preocupação com a formação de um mercado consumidor. Por fim, de forma geral notou-se que, em síntese, há um grande indicativo de que o grande público alvo da “Semana Illustrada” era constituído por jovens estudantes e adultos etilizados, sendo os consumidores dos sofisticados produtos e dos novos hábitos da modernidade publicados no periódico, incluindo as diversões. Afinal, as camadas médias, alfabetizadas e mais afortunadas que ocupavam os espaços na revista, com a justificativa e esforço do periódico em mostrar que somente as mesmas ocupavam os espaços da cidade.

O MONTANHISMO NO RIO DE JANEIRO: eugenia, higienismo e a febre esportiva, c.1900-1920

TAUAN NUNES MAIA

O presente estudo teve como objetivo compreender como o montanhismo estava inserido no conjunto de transformações na cidade do Rio de Janeiro nas duas primeiras décadas do século XX. Assim, foi realizada uma busca por publicações em periódicos, disponíveis no portal da Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional. Tais publicações indicam que o montanhismo estava imbuído em uma nova vida social urbana, em um país que buscava a modernização e o progresso. Porém, tais modificações ocorreram em parte para manutenção da hierarquia social, bem como através dos preceitos da eugenia e do higienismo. Assim, o esporte, tal qual o montanhismo, passou a ganhar destaque em função de serem consideradas ferramentas para a educação moral, física e intelectual. O montanhismo era visto como elemento chave para a construção de uma sociedade forte e viril, apontado como capaz de modificar os corpos da nação, uma vez que fazia uso de elementos como a competição, seleção do mais forte, evolução e hereditariedade. Pode-se observar que a imprensa associava aos montanhistas valores que se esperava homem moderno, tais como: coragem, bravura, virilidade, gloriosidade, força, valentia. Havia uma estratégia de se difundir um novo modelo de corpo, associado a novos padrões de bem estar e saúde, resultando em uma nova construção de imagem corporal. O montanhismo lentamente passou a ser incorporado pela classe trabalhadora, sendo que poucos eram as atividades realizadas por pessoas das classes menos favorecidas. No que toca as questões de gênero, o montanhismo contribuiu para forjar novas imagens à mulher, seja em função da prática em si ou dos valores e atributos físicos associados às montanhistas, que deveriam ou tinham certo padrão de beleza e de civilidade. O montanhismo também pode ser enxergado enquanto uma ferramenta de luta e afirmação das mulheres naquele tempo-espaço. Houve, na época, uma busca pela institucionalização do montanhismo. O mesmo era permeado por valores, desejos e sensibilidades associados à modernidade, tais como: comparação de resultados, superação de limites, realização de atividades em situações extremas, valorização do desenvolvimento tecnológico, construção de identidades nacionais, controle de emoções e exaltação do conceito de beleza. Da mesma maneira, passou a incorporar códigos da sociedade capitalista, como: produção, precisão, disputa, e desempenho. As narrativas associadas ao montanhismo buscavam projetar a cidade com uma imagem de brilho e modernidade, e em alguns casos tecendo críticas veladas. Ao se falar de identidade moderna, o montanhismo tinha relação direta com a nova dinâmica social, uma vez que valorizava a ideia de espetáculo e consumo na configuração dos imaginários. Assim, o binômio risco-aventura passa a ser essencial e proposital na adoção de comportamentos, uma vez que o capitalismo industrial exercia um poder disciplinar. Cabe destacar que o montanhismo, pode ser compreendido como um mecanismo de auto identificação e distinção social, suavizando as mazelas de viver em uma cidade atrasada e em um país que passava por profundas transformações. Como a distinção também estava associada ao prazer, felicidade, familiaridade, cooperação e ao patriotismo / nacionalismo, o montanhismo era encarado como fundantes do que se esperava de uma nação moderna e pacífica. Os valores atribuídos ao montanhismo como desafio, exercício físico, estética corporal, honestidade e probidade moral, entendidos enquanto escola de virtudes, eram essenciais em um país que passava por profundas transformações e buscava os rumos da civilização.

HISTÓRIA DAS DIVERSÕES EM RIO BRANCO, 1918 – 1927

JOYCE NANCY DA SILVA CORRÊA

A cidade de Rio Branco foi marcada por conflitos políticos, crise econômica e diversas reorganizações administrativas ao longo das primeiras décadas do século XX. Nesse interim surge e se desenvolve diferentes modalidades de diversão. Dentre elas, peças teatrais, festas religiosas, carnavalescas, cívicas e particulares. Esportes como o tiro, a regata e o cross-country figuraram a cena esportiva da cidade, mas foi o futebol o esporte mais afamado, com a criação de clubes, de uma Liga e com a disputa de torneios. O cinema, assim como o futebol, foi uma diversão reputada e duradoura, com destaque para o Eden-Cinema, espaço importante na história de Rio Branco até os dias atuais, pelo seu valor histórico. Esses ramos de diversões tinham em comum o envolvimento de pessoas que compunham a elite local. Mas havia as diversões “não úteis”, que englobava práticas similares às ditas úteis, porém eram realizadas por pessoas sem prestígio social. As diversões em Rio Branco surgiram em um período de crise econômica e tiveram fatores importantes para se desenvolverem. Entre estes, a diversificação do mercado, as ações individuais e o capital humano.

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